lunes, 4 de agosto de 2025

COMO UMA CIDADE SE TORNA MEDIADORA?

 


COMO UMA CIDADE SE TORNA MEDIADORA?

ERA UMA VEZ... Uma vila branca e encantadora, alheia à modernidade das grandes cidades, que possuía uma praça com uma linda fonte. Certo dia, dois forasteiros chegaram e ficaram encantados com a fonte.

Sentaram-se em um banco da praça e passaram toda a tarde contemplando-a. Depois, os dois turistas partiram e contaram a seus amigos sobre a beleza da fonte. Dois dias depois, chegaram cinco pessoas para ver aquela maravilha e também ficaram deslumbradas. Poucos dias depois, apareceu um ônibus de excursão. Foi emocionante.

A partir de então, a praça começou a receber diariamente ondas de turistas. Rapidamente surgiu, como por encanto, um quiosque que vendia refrigerante e cachorro-quente. Logo depois, uma hamburgueria. Os turistas se aglomeravam em torno do guia, que ficava em frente à fonte — à qual passaram a chamar de “Fonte da Bondade” — e contava uma lenda que ninguém no vilarejo jamais ouvira. Mais ônibus, mais carros. A praça já não tinha mais espaço para tantos veículos.

Foi então que o prefeito teve uma “ideia brilhante”: retirar a fonte e construir em seu lugar um estacionamento. Onde antes havia um recanto de paz, surgiram apenas problemas…

Conflitos começaram a surgir e chegou a crise. Sem a bela fonte, os turistas deixaram de vir, os lucros do quiosque e do estacionamento caíram e quase não havia mais sustento. Os moradores não aguentavam mais a situação.

Mas certo dia chegou ao vilarejo um viajante que falava sobre as maravilhas de uma pedra… Todos se aproximaram para ouvi-lo. Graças a essa pedra, todos passaram a colaborar para conquistar mais e mais — até que, juntos, reconstruíram a fonte original. Mas desta vez, não cometeriam os mesmos erros. Haviam aprendido a lição.

 

Queridos amigos, devemos apostar na "cultura do acordo", da cooperação, da resiliência. Devemos promover, em nossas cidades e bairros, uma "política de bem-estar", algo essencial para transformar uma cidade em Cidade Mediadora.

O bem-estar social se baseia em dois pilares principais:

1.     As relações de convivência, entre cidadãos que vivem seus direitos e deveres e cooperam entre si;

2.     As condições de vida, que são geridas pelos serviços públicos, pela proteção ambiental, ordenamento do território, urbanismo e habitação.

Para alcançar esses objetivos — manter boas relações entre vizinhos e melhorar as condições de vida — é fundamental contar com bons projetos de Mediação Comunitária em nossas cidades.

 

Um exemplo de conflito urbano atual é o chamado “síndrome NIMBY” (Not In My Back Yard, ou "não no meu quintal"): os moradores exigem serviços públicos, como transporte, infraestrutura, coleta de lixo, mas rejeitam que tais obras afetem diretamente seu entorno.

A mediação pode ser uma ferramenta eficaz para ampliar:

·       a participação cidadã no sistema democrático,

·       o controle dos poderes públicos,

·       a cultura do pacto,

·       o grau de responsabilidade social,

·       e a promoção de políticas públicas inclusivas.

A mediação comunitária deve ser implantada pela administração pública local — Prefeitura, consórcios de municípios —, pois é um instrumento de transformação social, que melhora os serviços públicos e a qualidade de vida dos cidadãos.

Ela aproxima o poder público da população, estimula a participação individual e promove uma democracia mais participativa.

Em resumo: melhora a qualidade da democracia, ao criar um novo canal de participação em que a decisão é do cidadão.

 

Mas quais seriam AS CHAVES para uma cidade se tornar mediadora?

Proponho sete pontos:

1.     Que a administração pública esteja disposta a participar de mediações quando houver conflitos com a comunidade. Isso exige que os gestores tenham flexibilidade para dialogar com os cidadãos e que haja apoio político institucionalizado, com aprovação da proposta em plenário pelas diversas bancadas.

2.     Que envolva ao menos três áreas distintas da administração municipal, garantindo que o plano de mediação seja integrado e não isolado (como acontece em algumas cidades onde apenas os serviços sociais atuam de forma pontual e paternalista).

3.     Que seja conduzido por profissionais especializados na gestão de conflitos. Muitos projetos dependem de voluntários, o que compromete a continuidade e a qualidade técnica da mediação.

4.     Que o município incentive programas de mediação escolar em escolas e institutos. A formação desde a infância é essencial, e as secretarias de educação devem ser protagonistas nesse processo.

5.     Que haja uma equipe interdisciplinar de mediação, para melhor abordar os diferentes tipos de conflitos surgidos na comunidade.

6.     Que o serviço tenha continuidade, e não seja um projeto eventual vinculado à gestão de turno. A mediação deve ser uma política pública duradoura.

7.     Que haja mecanismos de supervisão e critérios de avaliação, para aperfeiçoar continuamente o serviço prestado e analisar os casos atendidos.

 

Não podemos esquecer que, além de criar uma política de bem-estar baseada na mediação, o serviço de mediação deverá trabalhar em rede com os demais serviços municipais, como:

·       Assistência social,

·       Educação,

·       Segurança pública,

·       Atendimento ao cidadão,

·       Saúde e consumo.

E também com instituições externas, como:

·       Judiciário,

·       Hospitais,

·       Escolas e universidades,

·       Associações públicas e privadas,

·       Empresas e o chamado “terceiro setor”.

 

Por fim, querido leitor, como se implanta um Serviço de Mediação na Administração Local?

É uma necessidade social que exige uma decisão política firme.

É preciso apresentar o projeto aos profissionais da própria administração, divulgar amplamente sua criação e integrá-lo às redes de encaminhamento.

Assim, os cidadãos passarão a procurar a mediação, e esta oferecerá respostas diferentes:

·       Ao conflito com o vizinho pelo uso do elevador,

·       À insatisfação com a instalação de um novo centro psiquiátrico,

·       Ao embate com a comunidade chinesa recém-instalada no bairro,

·       Aos odores incômodos do bar do térreo...

Mesmo quando a outra parte não quiser comparecer, a mediação oferece uma nova forma de pensar os conflitos.

 

Se conseguirmos implantar Cidades Mediadoras, a administração pública dará respostas:

·       Livres para serem aceitas pelos cidadãos,

·       Inovadoras, diferentes das respostas tradicionais,

·       Participativas e responsabilizadoras,

·       Capazes de mudar valores e atitudes na comunidade, como num efeito dominó.

 

O papel mediador das entidades sociais

As associações de bairro têm um papel fundamental. Muitas vezes atuam como intermediárias entre os moradores e as instituições públicas.

Quando um morador tem dificuldade de acesso ou enfrenta burocracias intermináveis, são as associações que surgem como “chave de acesso” aos serviços públicos — mesmo que essa não seja sua função principal.

 

A mediação é uma resposta concreta para melhorar a qualidade de vida.Tomara que nossos líderes políticos se atentem para sua real importância.

 

 

1 - A Solicitação para iniciar o processo deve ser enviado para: fjales@uloyola.es, assinada pelo responsável, prefeito, etc. da cidade.

2 – A cidade candidata tem que apresentar um relatório de atividades.

 


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